sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

        Brígida


        Eu era pequena e serelepe. Minhas mãos, igualmente pequenas e pouco buliçosas. Eficientes, contudo, para destruir a Brígida.
Boneca de porcelana, com cabelo de verdade, olhos de mentira, ruiva, com maçãs no rosto, boquinha de lábios encarnados... sapatinho de veludo preto e... com aquelas faixas de boneca de modos na altura dos pés.
A roupa? Musseline azul de anjo, com rendinhas nas extremidades e uns detalhes de cetim em fita. Por baixo de toda aquela indumentária, Brígida era uma reles almofada de algodão áspero e assim foi fácil destruí-la.
Um dia, olhei para ela e senti um frenesi de brincar com sua fragilidade, que eu desconhecia, por sinal!
Mas quão pequenas eram minhas mãos e era pesada, a Brígida!... com aquele corpo de algodão e somente a cabeça, os pés e as mãos moldados na palidez da porcelana.
Depois daquele rápido descuido, lá estava ela: uma mula sem cabeça de membros amputados. Uma tragédia! O que dizer para a mamãe mediante o cenário do crime?...
Não, não se assemelhava mais àquela doce e delicada boneca de outrora!
Era apenas uma almofadinha vestida a rigor.
Não pude juntar os caquinhos... essa é uma tarefa dos adultos corrompidos.
Brígida não mais existia. Brígida era frágil... a bonequinha: herança da mamãe.



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