sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017



        Gosto


Gosto quando o Sol me diz
bom dia ou até logo
em reverberações degradês

Quando uma fila de formigas passeia
pelas lajotas brancas da cozinha
naquele contraste fascinante

Quando a chuva torrencial
lava a poeira do portão

Quando a comida queima a ponto de ficar
amadeiradamente
mais gostosa

Quando a roupa alvejada seca no varal
naturalmente

Quando tomo um café no fim da tarde
acompanhado de conversas

Eu gosto

de tudo que meus olhos comem,
de tudo que minha boca apalpa
e de tudo que meus ouvidos farejam!





sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


Digestão


Nestes dias, em que o início é o meio,
o meio é o aqui
e o aqui sou eu,

Eu queria vomitar fracassos,
digerir aqueles velhos desejos,
quem sabe mastigar essa latente vontade de consumir milagres...

Eu queria perguntar uma porção de coisas,
enquanto minha língua degusta o
amargo, doce, azedo,
salgado ou insípido
E trabalha vibrando mensagens
De toda ordem
Falando assim bem ou mal
Bem devagar
ou
Bem pausadamente
Eu queria ter essa sensação versátil e concomitante do comer/falar...

E ainda quero!

E ainda escuto a voz rouca de um coração que palpita
na mesma frequência de uma massa superior e sinistra:
Meu cérebro
Minhas ideias tão explosivas que insistem em permanecer
Tímidas, ansiosas e precavidas...
Maliciosas, elas, querendo sempre a melhor hora...
Tão fadigadas, suspirantes, trépidas, inconstantes...

Ah!... Eu queria, e ainda quero, experimentar uma bebida forte
Com um gosto cítrico

Para não vomitar caminhos que me levaram à estaca do agora e do sempre.