Aquela
carta
Uma chegada
inesperada, não por ausência de planos, mas pelo teor inédito daquele
evento. Fora a primeira vez em que recebera um envelope tão polidamente
lacrado e envolto em um mistério que me comovera e ainda me comove, até este
exato momento.
Eram várias,
fidedignamente iguais, pelo menos era o que a aparência dizia – mas na
realidade... NÃO. Introspectivamente, eram correspondências distintas, para
pessoas também distintas. Cartas para diversas pessoas – o que me despertava
anseios, numa expectativa latente, de recompensa, imersa
que eu estava, em outros desejos e queria que alguém chegasse e
compartilhasse comigo aquele momento tão peculiar. Contudo, não apareceu,
embora eu o tenha esperado até o último instante.
Apesar da
curiosidade, a carta parecia coadjuvante, para mim, pois aos outros era
como se fosse o clímax – e foi, embora nem todos tenham saído de lá realmente
satisfeitos.
Brincamos, rimos, brigamos, tudo em
estado muito civilizatório – aquele não parecia e, nem era mesmo, um
desses tantos momentos burocráticos da vida. Todos haviam
escolhido a sua carta e o que ela representava. Eu trocaria a minha
(esperada) carta por uma chegada, um vento que soprasse, naquela pequena sala
(pequena, não porque realmente o fosse, mas porque os livros, todos eles
comestíveis, ocupavam um espaço que os pertencia por direito).
Eu não estava em mim – ou
talvez eu fosse aquilo mesmo: uma pessoa fria e inerte; todavia, ainda
acho que não era eu. Pensemos em uma cronologia causal para isso? A minha
cota de surpresas, para aquele dia, já parecia findada. De repente, percebo que
ainda poderia receber muitas outras coisas e minhas pernas falhavam, ao
lembrar daquele envelope, do que estaria por vir.
Quando o abri, pude constatar o que
ali havia: letras, mensagem, tudo cuidadosamente pensado, mas não era para
mim, era para nós...
Entretanto, o
NÓS não pode existir em um mundo impermeável, em demasia, onde o mais
indescritível é romper os preliminares de uma narrativa e logo chegar ao
desfecho.